domingo, 12 de abril de 2009

Bea Feitler: Designer Brasileira foi Influente na América


No início deste ano adquiri uma edição da revista Print datada de 1987 e dedicada ao Design Brasileiro. O designer carioca Felipe Taborda foi o editor convidado da clássica publicação americana incumbido de coletar material para rechear o “tributo” aos brasileiros. Marcaram presença “medalhões” como Ana Luisa Scorel, Francesc Petit, Guto Lacaz, Miran, Rico Lins, Strunck, Rafic Farah, entre muitos outros que estão por aí até hoje). Há muito material gráfico e de publicidade da época (capas de LPs, anúncios, embalagens, cartazes de teatro e filmes, páginas de jornais e revistas etc). Porém, de todo conteúdo, um artigo que me chamou mais atenção referia-se a uma designer brasileira chamada Bea Feitler. O texto, escrito pelo próprio Taborda destacava a importância de da brasileira (falecida prematuramente de câncer em 1982) em importantes publicações como a Harpers Bazaar e Rolling Stone, além da histórica revista Senhor no Brasil.

Semana passada, assistindo um documentário sobre a trajetória da fotógrafa americana Annie Leibovitz (A Vida através das Lentes), eis que surge novamente a figura “até então desconhecida” de Bea Feitler.

Aos 40 minutos do filme, Leibovitz ressalta a influência que Bea teve sobre seu trabalho na Rolling Stone e como aprendeu a conceituar melhor suas imagens com a ajuda de seus conselhos.

A importância que Leibovitz dá a nossa brasileira (eu só sei que é brasileira por conta da Print “brazuca”, no filme não há essa informação) é enorme e acabou me deixando curioso a respeito do histórico da designer.

Vasculhando a vida da moça, descobri que Bea Feitler saiu do Rio e foi para NY estudar design na Parsons Schools e formou-se em 1959. Seu interesse inicial por ilustração rendeu-lhe um crescente fascínio pela área. Tornou-se aos 25 anos co-diretora de arte de uma das mais importantes revistas de moda americana, a Harper's Bazaar. Teve projetos de livros premiados, reformulou o formato da Rolling Stone e trabalhou no revival de um clássico dos anos 30, a revista Vanity Fair.

Segundo Felipe Taborda na Print, no período em que viveu no Rio de Janeiro após a graduação, iniciou um escritorio de design chamado Estúdio G, com dois outros artistas, especializando-se em design de cartazes, livros e capas de disco. Colaborou no projeto da revista Senhor, marca registrada do design brasileiro, sendo a única revista brasileira de cunho político e cultural concebida com conceitos de design. Num período de experimentação, Bea trouxe novas idéias ao layout da revista. Seu trabalho atravessou fronteiras, criou padrões e conceitos visuais que são influentes até hoje”.


Herdou os conceitos editoriais do designer Alexey Brodovitch e dizia que "Uma revista deve fluir. Deve ter ritmo. Você não pode olhar para uma página só, você tem que visualizar o que vem antes e depois. O bom design editorial é sobre ‘como criar um fluxo harmônico’ ".

Tintas fluorescents, fotografia com ilustração, tipografia expressionista e desinibida foram algumas das características de seu trabalho.

Tinha bom senso e intuição sobre as pessoas: após ganhar confiança, permitia que seus assistentes tivessem suas próprias abordagens, ajudando-os a reconhecer as suas potencialidades. Muitos jovens designers que trabalharam com ela tornaram-se grandes diretores de arte por mérito próprio.

De personalidade encantadora, mas também muito exigente, seus padrões de excelência na concepção dos projetos eram inegociáveis.

Mesmo enquanto diretora de arte de grandes revistas, trabalhou em uma variedade de projetos como capa de disco para os Rolling Stones, campanhas para Christian Dior e Calvin Klein, livros para Beatles, Cole Porter, Vogue e o fotógrafo Helmut Newton.

De 1974 até 1980, foi professora da School of Visual Arts, onde os estudantes batalhavam para estar em sua classe. Incentivava cada aluno a seguir sua própria direção. Consta como seu aluno, o artista Keith Haring, que era criticado por ter trabalhos inspirados no graffiti. Bea se entusiasmou com seu vigor e potencial, encorajando-o a continuar a desenvolver neste caminho.

Seu último projeto foi a volta da revista Vanity Fair porém não viveu para vê-la publicada.

Não me lembro do nome de Bea Feitler em nenhuma publicação ou aula sobre história do design nos últimos anos aqui no Brasil. Há um belo texto sobre a moça  intitulado “The Vitality of Risk” escrito por Philip Meggs no site da AIGA:

www.aiga.org/content.cfm/medalist-beafeitler

Galeria

Um comentário:

  1. Li há bem tempo que o sobrinho da Bea Feitler, Bruno, historiar e carinhoso guardião da memória da tia, lançaria em 2009, pela CosacNaify, um livro sobre a artista.
    Gostaria de encontrar este livro.

    Parabéns por trazer à tona esta revolucionária designer.

    Abraço.

    Maria Tereza Belumat

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