domingo, 29 de março de 2009

Frank Miller e os Créditos Finais de The Spirit


Contrariando as críticas negativas que The Spirit teve, tanto da imprensa quanto de fãs de quadrinhos, assisti ao filme, muito por consideração ao “histórico” de Frank Miller e acabei gostando do que vi.

Ainda muito jovem, Miller iniciou sua carreira fazendo um dos trabalhos mais marcantes com um personagem de segunda linha da Marvel Comics, o Demolidor (Daredevil). Cresceu como escritor e desenhista de quadrinhos e foi um dos mais ilustres admiradores da obra de Will Eisner. Seu estilo (closes, cortes cinematográficos, uso do claro-escuro, lettering, estrutura narrativa) é assumidamente influenciado pelo seu ídolo.

Além de ter criado a Elektra, a Queda de Murdock, ter resgatado a batmania e a popularidade de Homem-morcego com o Cavaleiro das Trevas e Batman Ano Um, nos últimos anos o autor levou para os quadrinhos as características da Literatura Noir de David Goodis e Mickey Spillane ao criar a série Sin City.

Provavelmente tenha inaugurado uma nova linguagem no cinema ao permitir que Robert Rodriguez idealizasse a ida de Sin City para as telas. Muito desta paisagem negra e escura está presente também em The Spirit, o que possibilitou um constraste e ambientação coerente com o período em que o personagem de Eisner atua e foi criado.

Além das beldades que contracenam com o herói, um dos pontos altos do filme (graficamente falando) encontram-se nos créditos finais: um trabalho tipográfico primoroso e matador que funde os storyboards (feitos pelo próprio Miller) com informações do elenco, equipe e produção (em letras vermelhas e robustas sobre o fundo preto e branco das imagens) ao som de "Falling in Love Again". A canção de 1930, originalmente cantada e popularizada por Marlene Dietrich no filme “O Anjo Azul”, é aqui interpretada, por incrível que pareça, por Christina Aguilera.

Clique abaixo e confira um trecho desta sequência.


Ignore as críticas negativas e confira The Spirit. Como citou o especialista em HQs Álvaro de Moya ao Estado de S.Paulo: “O meu amigo Will apreciaria esse tributo”.

That's Entertainment!

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quarta-feira, 25 de março de 2009

De Obey a Obama: a Arte de Shepard Fairey

Nos anos 80, Shepard Fairey, um estudante de ilustração da Rhode Island School of Design ficou conhecido por liderar uma das primeiras campanhas da chamada “guerrilha gráfica ou arte de guerrilha”. Criou uma cultuada figura estilizada conhecida como André, o Gigante (referência ao lutador francês de vale-tudo André René Roussimoff) em adesivos com a palavra “Obey” (obedeça) e que eram colados em toda parte da cidade. Sua intenção foi fazer uma crítica à propaganda e ao consumo desenfreado e isso utilizando tática e estética totalitárias.

“André, o Gigante” inicialmente uma experiência gráfica, transformou-se em um estilo, e tornou-se uma obsessão para Fairey: Todos os finais de semana saia as ruas e colava adesivos, grafitava com sprays e stencils e colava cartazes que traziam mensagens que subvertiam a publicidade tradicional.

Porém, o que começou como uma proposta de anti-publicidade – a figura do Gigante foi um porta-voz silencioso, sem um produto definido - tornou-se o próprio estilo e marca do artista, com direito a uma completa linha de camisetas, bonés e mochilas.

Em 2008 Shepard criou uma série limitada do retrato de Obama para ser comercializada e divulgar a campanha do então candidato a presidência dos EUA. Além do cartaz, a imagem foi estampada em camisetas e adesivos. Inclusive aqui no Brasil, a camiseta foi um hit entre os “descolados”.

Na semana passada mais uma vitoria: numa competição disputada por 90 concorrentes durante o prémio de design britânico Brit Insurance Design Award 2009, o artista americano, hoje um dos nomes mais conhecidos da street art levou prêmio de mais inovador em artes gráficas."O pôster de Obama é uma lembrança do impacto do design em nossas vidas diárias. O cartaz se transformou em um símbolo internacional da história recente", disse Deyan Sudjic, diretor do Museu do Design de Londres.

A vitória de Obama alavancou ainda mais a moral de Fairey. Em uma de suas ultimas mostras individuais, o artista teve todas as suas obras arrematadas, por até 85 mil dólares. Pra quem até pouco tempo vendia cartazes a 80 dólares...

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domingo, 22 de março de 2009

ARTURO VEGA E O LOGO DOS RAMONES


Eu tinha 15 anos quando caiu pela primeira vez em minhas mãos um LP dos Ramones. A fama dos caras já corria solta entre a turma da rua, tudo por conta de suas músicas de dois minutos, três acordes, riffs básicos e letras que tratavam dos sabores, da insegurança e das incertezas da adolescência. Porém, o que me chamou a atenção naquele momento também foi a capa do album: a imagem dos quatro integrantes em alto contraste, estilo xerox (característica da proliferação de fanzines na década de 70), carregada ao extremo sobre o fundo branco e no topo, o clássico logo magenta em caixa alta acrescido do titulo: Rocket to Russia. Este seria o primeiro de uma série de outros discos que graficamente impactariam minha adolescência.

Surgida em 1974, os Ramones se caracterizaram pela simplicidade nos acordes, canções rápidas (no primeiro show no lendário clube CBGB consta que a banda tocou 20 canções em 17 minutos, uma atrás da outra) e acabaram por influenciar a formação de bandas de rock em todo o mundo nos últimos 30 anos. O visual de seus integrantes foi também uma de suas marcas registradas: jaquetas de couro, jeans rasgados, cabelos compridos “a la beatles” e tênis surrado, além de um brasão criado pelo então roadie da banda, Arturo Vega.

Vega era um jovem ator/pintor de Chihuahua, México, que vivia em um loft próximo ao CBGB. Para pagar suas contas, o artista trabalhava como letrista em um supermercado produzindo cartazetes com preços de produtos.

Foi a primeira pessoa trabalhar com a banda: no início carregando e montando equipamentos de som e depois, cuidando das luzes dos shows.

Com o passar do tempo, passou a criar todos os anúncios, cartazes e flyers, bem como materiais para atrair jornalistas e outros tipos de empresários ligados a música. Claro que sem a tecnologia dos softwares e macs que dispomos hoje.

Porém, o mais importante é que Arturo concebeu um produto que, juntamente com as turnês, praticamente mantiveram os Ramones vivos: a venda de camisetas.

A maioria dos desenhos das camisetas eram derivadas de fotografias preto-e-branco de uma águia careca americana. Esta imagem figurava na fivela de um cinto na parte posterior do primeiro álbum (a foto, por sinal, foi cortada a partir de um auto-retrato que Vega havia tirado com um centavo no interior de uma cabine fotográfica).

No livro “Ramones – An American Band” o artista comenta: “Quando cheguei a Washington, me impressionei com a atmosfera dos edifícios oficiais e seus escritórios com bandeiras em flâmula por todos os lugares. Pensei: O Grande Selo dos dos Estados Unidos da América seria perfeito, com a águia segurando as setas - para simbolizar a força e a agressão que possa ser usado contra quem se atreve a atacar-nos - e um ramo de oliveira, oferecido para aqueles que querem ser amigáveis. Mas estamos decididos a mudá-lo um pouco. Em vez do ramo de oliveira, tivemos uma o ramo de macieira, uma vez que os Ramones eram tão americanos como uma torta de maçã. E uma vez que Johnny era fanático por baseball, adaptamos a águia segurando um taco ao invés das flechas."

O deslocamento no bico da águia onde originalmente lia-se "look out below/veja a seguir", mais tarde foi alterado para "Hey, ho! Let's go!" As setas sobre a águia do escudo vêm de um desenho de uma camisa de poliéster que Vega havia comprado na 14th Street, enquanto as letras do nome da banda, por extenso em caixa-alta, foram adesivadas em letraset.

As vendas destas camisetas, não só mantiveram os Ramones por muitos anos, mas também foi o modo como Vega financiava suas viagens com a banda pela Califórnia e Europa e também sua principal fonte de renda.

Arturo Vega trabalhou durante 27 anos com os Ramones. Praticamente tornou-se o quinto membro da banda. É provável que não tenha formação alguma em design ou comunicação. Seu nome não aparece nos grandes tratados e publicações da área. Mesmo assim, sua arte feita há 30 anos, na base de “cola, tesoura e letraset”, continua inspirando e sendo estampada em toda uma geração, seja na moda, no cinema ou em porões sujos nos quatro cantos mundo... Gabba Gabba Hey!

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LET’S DANCE, LET’S ROCK, LET’S TYPE…!

Bem-vindos ao Let’s Type.

O propósito deste blog é compartilhar percepções sobre o universo das artes gráficas e visuais, amarradas a cultura pop: Design, Música, Quadrinhos, Cinema, Moda, Publicidade, Tipografia, Ilustração e afins estarão sempre marcando presença por aqui. O título do blog surgiu como um trocadilho do grito de guerra da banda nova-iorquina Ramones, associado ao desenho de letras e tipos, como forma de expressão e elemento essencial na comunicação visual.